segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A constante produção de perfis - resultados! Parte 01

Renato e o mistério da vida, do universo e tudo mais
Por Anna Vitória Rocha

Renato Soares Pinheiro tem sete tatuagens espalhadas pelos braços, entre flores e outros símbolos coloridos. É impossível saber o que cada desenho quer dizer, mas ele garante que todos significam algo em sua vida. Uma delas, no antebraço esquerdo, é o número 42 pintado em vermelho. O número é uma referência à série de livros de ficção científica “O guia do mochileiro das galáxias”, de Douglas Adams, e é a resposta encontrada pelos personagens para o segredo da vida, do universo e de tudo mais. Ele conta, com a seriedade de quem realmente guarda uma parte desse segredo, que, na história, é dito que se a resposta não significa nada, talvez seja hora de repensar as perguntas. 

A busca por significado fez também que ele abandonasse o curso de Administração de Empresas dois anos e meio depois de tê-lo iniciado, por não saber exatamente o que queria fazer da vida. Apesar do amplo espectro de possibilidades de emprego que a graduação poderia lhe trazer, ele pensava que nenhuma faria a real diferença que ele queria ver - a pergunta, portanto, era outra. Seu objetivo, hoje ele enxerga e diz isso sem pensar muito, como quem tem a resposta na ponta da língua , é impactar a sociedade e ser uma espécie de força de mudança. Foi isso que o trouxe em 2013 ao Jornalismo. 

Quase um ano depois de ter se transferido para o novo curso, Renato ainda não tem o hábito de ler jornais, o que ele confessa de forma um pouco reticente. Mas, mesmo sem conhecer a fundo um dos principais produtos gerados por sua futura profissão, conta que viu o potencial do jornalismo de catalisar mudanças através do escritor japonês Haruki Murakami. O livro “Após o anoitecer”, que conta a história de seus personagens de forma similar a uma notícia de jornal, mostrou a ele o potencial desse meio, ao abordar temas como gênero e violência, e fazendo-o ver que a reportagem seria um bom caminho para tratar dessas questões que lhe são caras.

O potencial, aliás, foi uma das coisas que mudaram desde que ele resolveu encarar uma graduação diferente. Ao contrário de muitos estudantes que entram em um curso de Jornalismo com um olhar ingênuo sobre os meios de comunicação, Renato tinha uma visão inteiramente pessimista da grande mídia - o que combina com seu modo de agir, todo circunspecto, apesar do ar descolado dado pelas tatuagens, a pulseira no braço e o colar no pescoço.  Com as aulas, esse panorama fatalista ganhou um pouco mais de luz. “Eu achava tudo ruim, era muito cético, e hoje vejo que não é bem assim. Sempre existe algo de bom, até mesmo nas piores coisas”, ele reconhece. O pior, de acordo ele, se encontra em veículos como a Rede Globo e tudo que é, em suas palavras, “mainstream”. A não ser que esteja passando fome, dinheiro algum o faria trabalhar com algo que ele não acredita. “Não trocaria nada por dinheiro”, afirma. 

Ser diferente é algo bem importante para esse homem de barba espessa e cabelos pretos, grandes o suficiente para serem presos em um coque improvisado. Sobre seu livro favorito, de imediato ele responde “A menina que roubava livros”, de Markus Zusak. Um best-seller. “Mas esse todo mundo leu, né. Outro que me marcou foi ‘Laranja Mecânica’”. O problema, no entanto, não é que muitas pessoas conheçam, mas sim o vazio que pode surgir de tudo que é produzido tendo em mente uma grande massa. Mas séries como “Breaking Bad” lhe mostram que nem tudo está perdido. 

Outro aspecto muito importante de sua vida é a liberdade. Renato saiu da casa da mãe, em Ribeirão Preto, em 2010. O objetivo concreto era fazer faculdade, mas havia também o sonho de sair de casa e viver algo diferente. Hoje, em Uberlândia, ele mora com um amigo que conheceu ainda na época da escola e apesar de ter que conviver com a bagunça do colega - “homem é difícil, né” - ele recomenda a experiência pra todo mundo, e garante que é possível se engrandecer enquanto pessoa a partir dessa nova perspectiva. Até mesmo as saudades da família são positivas para ele, pois a falta que sente dos seus faz com que ele se concentre no que é importante e dê menos atenção a brigas bobas.
Sua busca convicta por significados profundos, impacto na sociedade, liberdade individual e crescimento pessoal mostram que, para quem não sabia o que queria há dois anos e meio, hoje, aos 22 anos, Renato tem as questões mais importantes da sua vida bem definidas e pode estar mais perto do segredo da vida, do universo e de tudo mais do que imagina - ao menos no que diz respeito a ele mesmo. A parte mais complicada, quem diria, está resolvida. “Agora preciso começar a ler os jornais, né”, diz ele, sorrindo. 

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